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27 de jan. de 2016

O COLECIONADOR DE SORRISOS




Ele caminhava devagar pela calçada molhada pela chuva que caíra na madrugada. O sol apontava por trás dos morros, ainda tímido e, seus raios tocavam a pele clara de seu rosto que sorria admirando a beleza do amanhecer. As flores dos canteiros centrais da rua exalavam um cheiro doce e gostoso. O João de barro já estava trabalhando na construção de sua casa, no topo do ipê roxo, todo florido.
Todos os dias, pela manhã, quando ele saía pra caminhar parava um pouco e observava o pássaro. Era um casal, cantavam juntos, ali perto do ninho sacudindo as asas, como se festejassem mais um amanhecer e logo em seguida, começavam a tarefa árdua e demorada para a construção da casinha.
Depois de observar por um tempo, continuava a caminhada. Cumprimentava as pessoas que encontrava no caminho com um "bom dia" sorridente. Algumas abriam um largo sorriso e respondiam "bom dia", outras apenas balançavam a cabeça e outras nem ligavam, como se não estivessem ouvindo nem vendo nada, pareciam robôs, caminhando com o olhar voltado ao chão, sem se importarem com o que acontecia ao redor.
Quando via alguém assim, sentia pena, lembrava de si mesmo, à um tempo atrás. Como perdera horas e horas naquela velha cadeira chata da varanda, com olhar perdido que não via nada. Era como um cego, na escuridão, só enxergava seus pensamentos, suas lembranças, seu passado. Mas aquela garotinha que brincava alegre lhe havia devolvido a vida com aquele sorriso tão lindo e puro. Ela nunca irá saber disso, mas seu sorriso, mudou totalmente a rotina daquele homem, lhe devolveu a luz e a sensibilidade. Ela não disse uma única palavra, não o conhecia e com um simples gesto, presenteou aquele ser que morria aos poucos naquela varanda enquanto a vida acontecia aqui fora. Ela plantou dentro dele um fascínio, uma alma de colecionador, aqueles bem fanáticos que querem ver sua coleção crescer em pouco tempo. Ele ficou tão fascinado com o poder do sorriso que resolveu fazer o mesmo que a garotinha. Decidiu que usaria essa arma poderosa para espalhar luz e esperança por onde passar. Decidiu ser um colecionador de sorrisos.

Sibely Martello Vilches




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